Vamo pro pau – Edson Olimpio Oliveira – Crônicas & Agudas – 20 Março 2013

 

2013 – 03 – 20 Março 2013 – Vamo pro pau – Edson Olimpio Oliveira – Crônicas & Agudas – Jornal Opinião

Vamo pro pau!

Dizem as boas línguas que avós são pais adocicados. Outros com a mente mais nebulosa dizem que os avós “estragam” os netos, fazendo aquilo chamado de “deseducação”, como certas escolas em que a disciplina ficou dormindo e não foi à aula. Predicados e qualificativos andam abraçados, mas vejo com singular felicidade a convivência entre avós e netos. E não se trata de querer recuperar algo nunca vivenciado com os filhos, mas novas e maravilhosas oportunidades de encantamento e de formação pessoal. Os exemplos abarrotam a literatura. Por esse meandro, considero dois tipos de avós – aqueles que contam estórias ou histórias e aqueles que algum dia ainda as contarão. Não há criança que não goste de escutar estórias, há adultos com pouca paciência e vontade que tão logo se abram sorrisos, olhares de apreensão ou até medo controlado, movimentação coreográfica e a curiosidade que encanta e transborda que o tempo deixa de ser contado pelos tradicionais e frios segundo e minutos.

Cr & Ag

Desde as tradicionais estórias, como as dos Irmãos Grimm, como aquelas criadas associando temas e pessoas conhecidas com os sempre presentes bruxas e fadas, lobisomens, lenhadores, porquinhos e lobos, madrastas e padrastos, anões e gigantes, florestas e desertos, noites escuras e dias luminosos, carros de corrida e vassouras turbinadas. Há que ter suspense. Muito. E finais felizes. O mocinho deve sempre vencer e salvar a criança. Outro dia, um avô feliz contava ao neto de olhos esbugalhados a estória da bruxa que raptou o Joãozinho que mora logo ali no Fiúza.

A Brigada andava procurando essa bruxa bandida que dá balas com veneno para as crianças na saída da escola e aí pega as crianças que falam com estranhos e coloca num grande saco escuro e leva para a sua casa nos matos da Tarumã. A Brigada até já prendeu ela algumas vezes, mas tem uma turma que solta ela de novo. E foi numa noite dessas que as casas fecharam bem as portas e as janelas e chamaram as crianças que estavam brincando na rua pois escutava-se um barulhos tipo um jato, um avião e umas risadas de malvada voando. Avisaram que era a bruxa da melancia chulezenta. Ela tem um pompom muito grande e não se limpa direito quando faz cocô. Que nojo! E aí fedia e juntava moscas.

Ela não toma banho?

– Claro que não. As unhas são grandes e sujas. Os dentes são fedorentos e podres naquela boca grande, tamanho da boca do lobo mau. E passava voando na vassoura para achar alguma criança. E o Joãozinho desobedeceu à vovó dele e ficou na rua brincando de bicicleta já de noite no escuro. Sabe que é a vovó que cuida dele quando o paizinho e a mãezinha estão trabalhando para comprar comida e roupas, remédios e brinquedos. Pois a bruxa maldita atirou uma corda e laçou o menino desobediente, colocou no saco e levou para a casa dela. Queria que ele engordasse para assar ele no espeto e comer. A vovó viu na hora que a bruxa carregou ele. Aí pediu socorro pra polícia e pros vizinhos. O seu Assis, pai do Silvano, lembrou-se de chamar o lenhador valente. O celular não funcionou e o seu Assis foi correndo chamar ele. Foi a sorte. O lenhador pegou seu machado e foi no castelo da bruxa malvada. Quando chegou lá a bruxa botou um dragão, um lobisomem e um anão para não deixar ninguém entrar até ela engordar e comer o menino desobediente. O lenhado valente nunca se acovarda e gritou: – Vamo pro pau! E cortou o rabo e a cabeça do dragão. Aí veio o lobisomem, ele deu uma pauleira no bicho. Ainda tinha o anão que era campeão de luta. A briga foi muito feia, até que ele acertou um rabo de arraia e uma voadora no anão. Isso ele aprendeu com o tio Chico Barbeiro. A bruxa olhava agora com medo lá da janela bem no alto. Aí o lenhador mirou a grande porta do castelo e gritou de novo: – Vamo pro pau! E enfiou o machado com toda a sua força até rebentar a porta. A bruxa de tão assustada até soltava pum muito fedorento. E pegou a bruxa antes que ela fugisse na vassoura. Abriu a barriga fedorenta dela e encheu de pedras e jogou no lago da Tarumã. Bem no fundão. E de lá essa aí nunca mais vai sair…

Cr & Ag

Mudando da mala para o saco já que o espaço está acabando e a Natacha terá que espremer o texto no meu cantinho. Dizia-me um amigo que a situação do município está horrível e ele é um dos colaboradores diretos dos eleitos. E aí? Pois esperamos que as estórias sejam menos assustadoras, mas quando a situação representar a bruxa que quer nos devorar com seus dragões e outras feras seja dado um brado: – Vamo pro pau! Acreditamos que sempre existirão lenhadores para aliviar a bronca e salvar a situação.

 

Elvira Amrhein  3-749410

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