2013 – 04 – 03 Abril 2013 – Quem tem teme – Edson Olimpio Oliveira – Crônicas & Agudas – Jornal Opinião
“Quem tem teme!”
E o Criador contemplava aquele mundo maravilhoso, sem poluição, sem guerras, sem conflitos sociais, mas ainda sem gente. Isso mesmo, sem pessoas. Então o Criador franziu o cenho e ergueu o supercílio direito e pensou: – Quem vai aproveitar tudo isso? Os animais são fantásticos, mas ainda são e continuarão sendo animais. Alimentos em profusão, frutas frescas ao alcance da mão e ninguém para consumir? – Ao seu lado direito um belo barreiro resplandecia ao sol de meia tarde. Até os barreiros eram formidáveis no Paraíso. O Criador reuniu o pessoal do planejamento e vieram alguns arquitetos. Na cola veio a turma da publicidade. Alguns identificam esse fato como o nascimento da democracia e outros do… orçamento participativo. Várias sugestões e ao fim de intermináveis segundos, Ele colocou a mão no barro e começou a modelar algo similar ao seu reflexo no espelho d´água. E modelando. Modelando. Eis que contemplou a penúltima obra daquele momento – o homem. Em barro e quase osso. Logo recebeu o sopro da vida e o acalento da eternidade.
Cr & Ag
Vários Oh! e somente um Iiiiih! Quem desaprovaria o Criador? Quem? Quem? O pessoal do marketing gritou: – Deve ser alguém contra o consumo e a economia de mercado! Olhavam-se desafiadoramente. Eis que surgiu o autor da desaprovação. Enroscada num galho de árvore estava ela. Sim, ela a serpente. E sua voz sibilina voltou a picar: – Tanto para tão pouco. É muito poder para o homem. Irá possuir e mandar em todos nós e o que temerá além do Pai? E quando o Criador estiver ocupado treinando o coro de anjos, ou refazendo mundos poluídos ou infestados de políticos larápios e de políticos complacentes, ou fazendo aquilo que a justiça não fez, quem colocará limites no homem?
Cr & Ag
Uma preocupação crescente, um temor reptiliano fez asas recolherem suas penas. A víbora, sentindo que dominava a plateia, picou novamente: – Mestre, aí nesse barro ainda fresco que escorre entre os glúteos do homem… Coloque um orifício, um buraco como nos animais seus súditos e ele temerá aos outros e a si mesmo. O supercílio esquerdo do Criador eriçou-se e a serpente cravou sua cauda escamosa no homem. E assim fez-se o ânus. Talvez haja algumas diferenças conforme a versão da direita ou da esquerda, ou do sindicato dos oleiros, ou dos médicos de plantão no Éden. Pouco importa, vale o temor gerado no homem pela presença do orifício crepuscular fatalmente assediado pelo barro eterno e como entrada ou saída amedronta ou alegra.
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E a víbora primordial acertou sua derradeira frase: – Quem tem (ânus) teme! E o mundo caminhou e caminhou. Até que certo inglês intrometido chamado Darwin descobriu a teoria evolucionária. Como? Sim, as espécies evoluem. Até as humanas. E em pesquisas de cientistas chineses, americanos e paraguaios descobriram-se espécies brasileiras sem ânus – modelos e vários artistas da Globo. Identificaram ânus destemidos, alheios a qualquer ameaça, intrépidos, corajosos ao extremo entre políticos brasileiros e venezuelanos. Descobriu-se falsificação anal no Paraguai, assim como transgênicos como aspirações mutantes para terem mais de um ânus. Talvez para rotação de culturas.
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Houve um tempo neste Brasil com S ou Z em que as criaturas temiam a cadeia. Prisão significava a defesa mortal de seu ânus contra as hordas invasoras. Sabiam de antemão que perderiam a batalha e que ânus de preso pode não ter dono próprio. Mas a terra ou a pátria do “jeitinho” resolveu que cadeia é o caminho passageiro entre a criminalidade e a liberdade para transgredir novamente sem culpa. Contaram com o auxílio da parte da justiça que liberta bandido, não condena à prisão político criminoso e enjaula o cidadão.
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Tive a satisfação de cumprimentar pessoalmente uma das duas valorosas juízas desta terra. Elas são odiadas e temidas pelos bandidos e defensores de bandidos, pois não buscam as brechas da lei para libertá-los e entendem que criminoso deve cumprir pena preso. Preferencialmente, em defesa da sociedade, dos direitos humanos da sociedade e especialmente dos humanos direitos. Precisamos de mais juízes assim. Precisamos da lei ao lado do cidadão e que eles, os criminosos, voltem a temer mais do que são temidos.
Deus cria o Sol e a Lua – por Michelangelo
Deus cria Eva – Michelangelo