A casa do Repolho – Edson Olimpio Oliveira – Crônicas & Agudas – 28 Abril 2015

 

2015 – 04 – 28 Abril – A casa do Repolho – Edson Olimpio Oliveira – Crônico & Agudas – Jornal Opinião

 

A casa do Repolho

 

Pois o Repolho é dessas criaturas determinadas. É dessas criaturas que vencem pela insistência e na sua luta sempre se agregam soldados prontos a defendê-lo. E assim foi o seu namoro com a Juliana. A Juliana já fora casada com o Terçol que ainda ansiava renovar seu amor, mas a competição estava acirrada. Juliana acumulara filhos de outros matrimônios, transitórios, mas intensos e persistia seu charme avassalador de candidatos que se digladiavam pelas delícias de seu leito. As promessas do candidato Repolho convenceram os amigos e aos familiares da Juliana. O namoro lhe permitiu conhecer sua prole, seus dependentes, seus empregados e agregados. Até aos segregados. Juliana não era dessas teatinas sem eira nem beira que levariam apenas a escova de dente e filhos desnutridos para o novo e alvissareiro casamento. E Repolho era o cara. O cara certo que Juliana precisava. Suas promessas encantavam mais que as sereias de Ulisses.

 

Cr & Ag

 

No entanto, a festa durou um oh! Talvez a origem italiana o fizesse ser um inquisidor de moedas. E logo o amor parecia azedar. Os beijos não eram mais tão doces e suculentos nem o leito revestido de linho egípcio. Em seu acurado balanço descobriu o que não tinha visto antes? Juliana devia demais, gastava demais, comiam demais e ganhava de menos. Repolho trouxe seus parentes e amigos para a vida familiar, mas isso não era um ônus e sim uma necessidade para a sua convivência e harmonia. – Mas como? – estranhavam os amigos que fizera promessas de um casório frutífero e amoroso. Repolho reuniu a família e determinou: – Gastem menos! Comam menos! Adoeçam menos! Estudem menos. Juliana estava estupefata, pois o antes amoroso e cheio de projetos virara um poço de lamentações. Sumiram as soluções, desapareceu a criatividade e vingou o derrotismo num muro de choro e ranger de dentes que Repolho tratou de levar de casa em casa. Sentia-se na necessidade de explicar aos seus amigos e apoiadores que se sentia derrotado sem iniciar a luta. Os problemas, antes conhecidos, eram maiores que o gênio de Repolho?

 

Cr & Ag

 

Repolho viajou para a Capital e tentou convencer os padrastos de Juliana a botar dinheiro nas mãos do genro. Os padrastos recuaram encalacrados até as pestanas no maior escândalo de corrupção e roubalheira conhecido naquelas plagas – ou seriam pragas? Voltou com riso amarelo nos dentes verdes e de mãos abanando em novos pedidos de socorro. – Vou parar de pagar os empregados! Vou parar de pagar os fornecedores e vamos comer a comida que o diabo amassou! – a criatividade e as soluções do vencedor Repolho sumiam numa névoa fedorenta. Mas Juliana notava que os amigos de Repolho mantinham sua vida e continuavam a corte ao chefe. O único corte que experimentavam era a faca tirando nacos de picanha e costela.

 

Cr & Ag

 

Terçol, o preterido, sentia-se inflado no seu ego: – Viram só! Eu dizia que o melhor para Juliana era eu! – nada disso convencia muito, mas as marolas de cacacá batiam no queixo e seu passado mórbido de defensor de bandidos e assassinos caçados pela lei do país natal, nenhuma autoridade real podia lhe auferir. – O mundo dá voltas! – continuava praguejando. Talvez como parafuso que quanto mais voltas dá, mais apertado fica. E Juliana sentia o leito de amor esfriar e Repolho tornara-se um chorão. Um chorão e um pidão! O povo assistia a tudo isso com um nó na garganta e um chute nas partes pudendas. Quem era a solução que se autoanunciava, a resposta às dificuldades, o Repolho certo para o lugar necessário, murchava dia a dia.

 

Aviso aos julianos, digo gaúchos: qualquer semelhança com Sartori, Tarso, a “república” gaúcha e adjacências é por sua conta e risco.

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Horizontes – Edson Olimpio Oliveira – Crônicas & Agudas – 21 Abril 2015

 

 2015 – 04 – 21 Abril – Horizontes – Edson Olimpio Oliveira – Crônicas & Agudas – Jornal Opinião

 

Horizontes

 

Faça a imagem de um Colombo ou de um Américo Vespúcio, que também era Cabral, sentado num rochedo à beira do oceano. Mesmo na sua infância. Os olhos cravados naquela linha onde o mar e o céu se tocam, mesmo que aparentemente. Ou Moisés cansado da jornada pelo deserto e vendo seu povo em sofrimento e revolta, ora com os braços erguidos aos céus e busca no horizonte algum sinal de que Deus está com eles e logo a montanha se crava na sua retina e um sentimento brota em sua alma. Um novo horizonte se descortina! A casa própria, o primeiro carro ou uma flor para a pessoa amada são horizontes singelos nas aspirações humanas. Quantos horizontes se descortinam em nossa mente ou reluzem em nossos olhos e que embalam nossos sonhos, nossos desejos, nossas aspirações e com ele a máquina chamada humanidade caminha e galga, alcança e persiste evoluindo.

 

Cr & Ag

 

Somos seres que precisamos, necessitamos e buscamos evoluir. Infelizmente nem todos para o bem e para a iluminação. Há quem veja o brasileiro como um povo acomodado em suas poucas necessidades e com horizontes muito próximos e, por vezes, fugazes. Um balde d’ água e um prato de farinha para o nordestino, um trio elétrico para o baiano, churrasco para o gaúcho, uma viola chorando a traição para o centro-oeste… E um pouco de tudo para a miscelânea humana que é “Sum Paulo”. Diretas Já – era o povo vislumbrando um horizonte. Seguiram-se com os caras-pintadas e o Fora Collor. A construção do falso mito do operário amputado no trabalho elevou um partido (PT) como depositário dos sonhos, aspirações e daquilo que era a sua legenda principal na honestidade e corrupção zero como a bandeira desfraldada num novo horizonte de plena liberdade, trabalho e sonhos possíveis e realizáveis.

 

Cr & Ag

 

Somos criaturas desesperadas por acreditar. Está na nossa índole mais ancestral. Necessitamos crenças. Preferimos as verdadeiras, mas aceitamos e tentamos nos enganar com as falsas, pois a nossa cristandade persiste em “vai melhorar” ou no “Deus é brasileiro e vai nos ajudar”. Contentamo-nos com péssimos hospitais para nós e nossa família e escolas ruins para nossos filhos, netos e amigos, desde que a casta superior que nos governa possa tratar-se no Sírio Libanês ou nos melhores serviços médicos do planeta. Para muitos o horizonte segue satisfeito num churrasco com cerveja no final de semana ou um baile funk. Um adesivo entristecia-nos durante os anos de ditadura militar – Brasil! Ame-o ou Deixe-o. Estamos vivendo nova ditadura. A ditadura do absolutismo partidário pelo voto dos obsidiados pela ideologia ou pelo populismo das bolsas qualquer coisa enquanto durar o dinheiro e a paciência de quem trabalha e sustentadas pelos mais cruéis impostos do mundo dito civilizado.

 

Cr & Ag

 

Cresce o número de pessoas que o horizonte está em viver fora do país. Um programa da Band TV retrata o mundo pelos brasileiros que vivem nos mais variados confins da terra, trabalhando, estudando, produzindo. Continuam amando e saudosos da pátria e dos familiares e amigos, mas a vida lá está melhor. A ideologia vigente e tão caótica quanto a corrupção e irá chama-los pejorativamente de “elite”. Quem estuda e trabalha é elite. Quem tem um horizonte é elite. “Felizes as elites, pois deles serão os reinos da terra” – o Filósofo do Apocalipse. A “elite” domina Cuba há mais de cinquenta anos. A “elite” domina a Coreia do Norte. A “elite” ficou com toda a riqueza depois do esquartejamento da União Soviética. A “elite” destroçou a Venezuela, um dos principais produtores de petróleo do mundo. Um horizonte trouxe pessoas, crianças e famílias para as ruas do país sem as bandeiras da dominação viciosa de muitos sindicatos ou das milícias que ordenham em proveito próprio a saúde da nação. E o seu horizonte? E o horizonte que deixará para sua descendência e para sua pátria?

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Dessa vida nada vais levar! – Edson Olimpio Oliveira – Crônicas & Agudas – 14 Abril 2015

 

2015 – 04 – 14 Abril – “Dessa vida nada vais levar” – Edson Olimpio Oliveira – Crônicas & Agudas – Jornal Opinião

 

“Dessa vida nada vais levar”

 

E

xpressão conhecidíssima e por vezes aplicada como orientação, outras como admoestação. Outro ditado apregoa que “nascemos carecas, com fome e chorando” e “tudo que vier é lucro”. Há que ter cuidado com essas advertências, pois ao sofrido, enfermo ou desgastado pelas agruras da vida essa indicação de desapego pode ser ainda mais dolorosa. A pessoa está ancorada nos afetos ou nos seus modos e atitudes de vida que são as fórmulas de equilíbrio na sua balança emocional e o desprendimento forçado é agressivo e doloroso. No extremo oposto, pode significar um nada ou um quase nada. Até uma manifestação de ciúme embutido pode revelar. “Se tens tanto em bens ou saúde e ficar se prendendo a algo menor…” O que é menor? Os valores das pessoas devem ser respeitados ao respeitar-se a pessoa. O que é desprezível ou de pouco interesse para uns, será o contrário para outros. E o entendimento também é circunstancial. Publiquei uma imagem de uma borboleta em chamas (sem queimar-se) e isso trouxe enorme constrangimento e dissabor para uma amiga leitora. Para outros, pouco ou nada significou além de uma mera imagem. Entretanto naquela pessoa foram mobilizados sentimentos, conteúdos emocionais importantes para ela.

 

Cr & Ag

 

Em certas culturas ou civilizações, carrega-se para a sepultura muito daquilo que “precisará depois, na outra vida”. Nessa esteira de consciência estão os faraós egípcios e castas de hindus. Cristo levou apenas um manto, uma mortalha para cobrir seu corpo na sepultura de granito. Há criaturas que precisariam de gigantescos ataúdes para levar seu ouro e seu orgulho. Os ladrões da Petrobrás acreditam que suas vidas serão seculares para gastarem os milhões roubados da sociedade que trabalha e paga impostos. Muitos precisariam de várias vidas para “aproveitarem” seu butim mascarado como “consultoria ou palestra”. E ainda esperam ver seus nomes em estradas, praças, aeroportos e hospitais. Quer piorar? Nós veremos seus nomes serem idolatrados e ferozmente defendidos por falanges de obsidiados brandindo foices em punho.

 

Cr & Ag

 

Nós, as pessoas do mundo real, nos amparamos em várias coisas, pessoas e animais que representam a nossa personalidade ou os retalhos da nossa vida. Sabemos que depois de fecharmos os olhos e exalarmos o derradeiro suspiro nessa vida, nada que acolhemos e amamos terá o mesmo valor para outras pessoas. Nem para aqueles do “mesmo sangue” e pelos quais tantas vezes “sangramos”. – Doutor, depois que eu sair dessa para outra, ela pode fazer o que quiser com as minhas coisas, pode dar minhas coisas e minhas roupas para os carentes ou para o novo marido. Mas agora eu não aceito meu doutor. Lógico que nenhum ataúde será suficiente para carregar a materialidade conquistada pelo trabalho ou pela roubalheira. Mas nenhum de nós se desprenderá dessa existência sem toda a carga afetiva, espiritual, de experiências e de entendimentos vivenciados. Viver com intensidade e realidade. Amar e ser amado. Permitir-se no amor integral e não somente no sentimento adoçado e adornado do ter mais. Boa semana!

 

O trânsito de Viamão City.

 

Caía de maduro, mas essa administração corajosamente aplicou o estacionamento rotativo e pago. Nos idos de 1983, depois de viagem a Uberaba em Minas Gerais, apresentei no Lions Club, onde participava, de imagens e documentos mostrando o estacionamento rotativo pago e com monitores controlando grupos de jovens carentes que realizavam a venda de tíquetes e o controle horário. Apresentei para outros gestores públicos também. Resultado: sorrisos amarelos e desinteresse. Agora elogio o governo Bonatto. A propriedade pública foi restaurada para todos. Há que controlar e multar o constante abuso de velocidade de veículos na avenida central da cidade. E por muitos motoristas profissionais, inclusive de ônibus. Há que disciplinar e criar cursos de reciclagem para motoristas de táxi que acreditam terem prioridade sobre os demais mortais e desrespeitam abusivamente os pedestres nas faixas de segurança.

Amor Cibernético

Matracas – abrir ou fechar – Edson Olimpio Oliveira – Crônicas & Agudas –07 Abril 2015

 

2015 – 04 – 07 Abril – Matraca – abrir ou fechar- Edson Olimpio Oliveira – Crônicas & Agudas – Jornal Opinião

 

Matracas – abrir ou fechar

 

Na minha infância viamonense havia sons identificadores de profissões e criadores de fantasias na gurizada. O afiador de facas, tesouras ou qualquer coisa que cortasse – exceto certas línguas ferinas – era de uma flauta. A criançada corria pra avisar as mães que o afiador de facas passava com sua oficina ambulante agregada numa bicicleta ou num carrinho. O gaúcho sempre teve um amor especial pelas armas brancas e é o embate entre lâminas varando o ar denso ou cortando carne em esguichos rubros com olho no olho que separa o valente do covarde. O som da flauta remetia para o ancestral conto dos irmãos Grimm, do Flautista de Hamelin, e imaginávamos os ratos de quatro e de duas pernas sendo mesmerizados, hipnotizados, encantados pelo flautista e afogados no Lago da Tarumã.

 

Cr & Ag

 

Nas celebrações da Semana Santa, por vezes, ocorriam nas procissões além dos sinos da igreja, das sinetas dos coroinhas e sacristãos, o clac-clac das matracas. Feitas de tábuas de madeira com dois aros de ferros ou arame rígido, um de cada lado, que num movimento rápido e rotatório das mãos gerava o som característico. Muitas cidades e regiões ainda as usam solenemente. Também era o instrumento de chamamento do antigo vendedor de casquinhas. Com imensos latões albergados nos ombros atulhados de finíssimas casquinhas crocantes de cereal fazia o deleite das crianças e de muitos adultos. Preferia circular pelas ruas poeirentas após o almoço. Ou quando os adultos gostavam de sestear, dormir, serrar um toco, entregar-se aos braços do Morfeu. O esperado pela criançada podia ser um transtorno para os pais. Então deixavam uns pilas sobre a mesa para não serem interrompidos. Algumas vezes, escutava-se alguém indignado com o som: – Fecha a matraca!

 

Cr & Ag

 

Eis que matraca é sinônimo de pessoa tagarela ou faladora. De quem fala pelos cotovelos. Quando a professora que hoje alcunham de “tia” mandava “fechar a matraca” geralmente não se escutava nem o respirar das criaturas. A disciplina, hoje simplória palavra dos dicionários, era mandamento de Deus e das famílias. Vem o episódio do “por que não te calas” do rei espanhol Juan Carlos para a verborreia indisciplinada de Hugo Chaves numa conferência de chefes de Estado no Chile. Na minha primeira semana de aula, ao adentrar os umbrais da Faculdade de Medicina, na cadeira de Psiquiatria, fomos divididos em grupos de cerca de cinco estudantes. A maioria das profissões e atividades e situações humanas recebeu a presença constante de um estudante para “ouvir”. Ouvir e aprender e transmitir aos colegas. Anotava-se e discutia-se com os monitores e logo em sala de aula com os mestres. Saudades da sabedoria do professor Dr. Darcy Abuchaim, de uma família de brilhantes médicos e psiquiatras de reconhecimento internacional.

 

Cr & Ag

 

Íamos às casas, locais de trabalhos mais diversos, do nascimento ao velório. Pense em alguém, num estado de vida e de morte, qualquer profissão da mais antiga a mais moderna ou transitória. Ou desempregado. Sedimentávamos camadas de respeito, aceitação, ruptura de paradigmas e busca de entendimento. Na base estaria “escutar”. Tantos profissionais enchem os pacientes com a sua fala e quase nada sobra ao paciente para dizer, falar, ser um paciente que espera ser ao menos ouvido, importante pra alguém. Na euforia de “novos médicos” aprendíamos a fechar a matraca. Ouvir mais e respeitar mais. Certos valores mudam numa sociedade de transitoriedade, muitas vezes abjeta. O Filósofo do Apocalipse gravou que “política é a arte de falar mais e de fazer menos”. Somente os obsidiados pela ideologia ou pela idolatria ainda se encantam com o falar muito, propagandear sempre, mentir com convicção e iludir na insistente manutenção do poder. No Brasil de todos nós sem corrupção e ladroagem “que ainda não tem nada provado” precisamos que homens públicos fechem suas matracas, escutem mais o povo e não seus seguidores cabresteados e de plantão e façam o que lhes compete.

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