12 Dezembro 29 – 2010 – Edição Especial – Feliz Ano Novo – Colaboradores – Edson Olimpio Oliveira – Crônicas & Agudas – Jornal Opinião de Viamão.
2010 – o ano que está terminando. A sabedoria humana ou o bafejar dos deuses construíram essa mágica de tornar o tempo fragmentado. Com hora para começar e acabar, dando-nos assim a possibilidade de nos perdoar e de sermos perdoados, de prometer ser ou fazer diferente num novo tempo e assim como deuses finitos em carne, osso e gases sermos senhores do futuro. A página traz hoje o talento de amigos colaboradores que esculpem sentimentos com o cinzel das letras e palavras. Curtam. Aproveitem. Agradeço-lhes permitirem passarmos em suas existências. Lamentamos alguma dor causada. Oramos para que suas vidas sejam mais alegres e iluminadas e que o Ano Novo traga-lhes harmonia, saúde e sabedoria. – Edson Olimpio Silva de Oliveira.
Uma história de amor!
* Por Benedito Saldanha – Viamonense e Membro da Academia de Letras do Brasil
Faz três anos que ela partiu. Até parece que foi ontem. Mas guardo dela as mais lindas lembranças e os melhores momentos de um amor que jamais terá seu fim decretado. Guardo as fotos dela como quem guarda uma relíquia. Lembro do sorriso dela quando amanhece o dia. Ouço a voz dela quanto estou enfrentando momentos difíceis. Luto contra a tristeza diariamente e lembro que ela me pedia para eu nunca deixar de fazer as coisas que gosto e também que eu nunca deixasse de escrever. Ela adorava minhas poesias e minhas crônicas. E profetizava que eu ainda seria um escritor famoso. Sigo escrevendo por que ela me pediu porque, na verdade, não sinto inspiração alguma para empunhar novamente uma caneta e nem digitar no teclado.
Nossa despedida foi unilateral, isto é, só eu pude me despedir e dizer para ela o quanto eu a amava. Ela não podia falar. Até hoje não sei se ela estava me escutando. Prefiro acreditar que sim. Peguei em sua mão e beijei seus lábios, mas já sentia que ela não estava mais consciente. Apenas contemplei-a pela última vez, transformando minha tristeza em lágrimas que teimavam em escorrer do meu rosto. Sob o olhar apreensivo de médicos e enfermeiras me despedi dela. Nada mais restava a fazer. A doença que dominara o seu corpo, vencera, não dando chances para que a medicina pudesse ainda tentar alguma ação. Assim foi nossa despedida. Ela, inerte na cama de um hospital. Eu, triste e revoltado, mas ainda acreditando em encontrá-la em outra dimensão.
Faz três anos que ela partiu. Mas até parece que foi ontem. Quantos planos fizemos juntos, quantos projetos ainda por realizar. Ela se foi aos 28 anos de idade e estávamos cada dia mais apaixonados. Lembro da última noite que ela dormiu em casa. Ela me olhou bem no fundo dos meus olhos e disse que era a mulher mais feliz do mundo por ter vivido aquele amor em toda a sua intensidade e que, apesar de estar indo para o hospital buscar a cura daquela enfermidade, jamais deixaria de acreditar que um dia voltaria para a nossa casa. E que eu a esperasse porque ela voltaria mais linda do que antes para que pudéssemos então concluir o projeto do nosso jardim com as flores preferidas dela. Mas o destino não quis assim. E até hoje me vejo olhando para o jardim inacabado e esperando ela chegar no portão.
Dizem que o amor vence tudo e remove todas as barreiras. Me pergunto: até que ponto isso é verdade??? Sempre pensávamos em vivermos muito tempo lado a lado e nos amando muito. Sempre prometemos um ao outro que iríamos nos amar pra sempre. Mas nunca contávamos que a mão fatálica do destino fosse nos separar ainda no esplendor de nossa juventude. Apesar da perda posso dizer que vivi esse amor em toda a sua plenitude. Abdiquei de muitas coisas por causa dela e sempre preferia a companhia dela aos programas com os amigos.
Muitas coisas restaram deste amor, muitos sentimentos ainda estão presentes, mas o que de mais valioso ficou foi o fruto desse amor infinito, o ser que ela trazia em seu ventre, nossa filha, que recém completou três aninhos e que a cada dia se parece mais e mais com ela. Nossa filha é o que sustenta ainda minha presença neste mundo. É por ela que eu vivo. É por ela que eu luto.
Quando me perguntam se ainda vou amar outra mulher respondo que não, que o amor de verdade só se vive uma vez. E este amor eu já vivi. Mas, apesar da minha imensa tristeza, ainda espero reencontrar esse amor em outra dimensão, quando então nossas mãos se entrelaçarão novamente e nosso jardim será finalmente concluído… Então no mundo celestial.
Meus pés!
· Baltazar Molina – Poeta da ALVI
Por setenta anos caminhei no mundo.
Estes pés me levaram ao desconhecido.
E acharam o rumo certo ao caminho.
Nem sei quantas vezes que estive perdido.
Com eles estive na alta montanha.
Andei caminhando a beira dos rios.
Desci os barrancos ate o caudal barulhento.
Escalei a escarpa de profundos abismos.
Eles me levaram pelo caminho de sonhos.
Num tempo sem bússola que tive na vida
Andei pelos vales e jardins floridos.
Gastando distancia no andar fugitivo
Voltei a meu pago com os pés cansados.
Daquele que no tempo muito caminha.
Com muita tristeza ao voltar tão tarde.
Ouvi o silencio de minha casa em ruína.
Sarau de Saudades!
· Por Lúcia Barcelos – Poetisa da ALVI
Hoje, o ponteiro é uma voz chorando as horas,
E a saudade tem a cor das tardes
Que traziam promessas de encontros breves.
À noite, levávamos sorrisos e almas leves,
E sob a luz transparente que estremecia
Nos entregávamos aos braços da poesia!