“Una Cueca-Cuela” – Edson Olimpio Oliveira – Crônicas & Agudas – 09 Dezembro 2014

 

2014 – 12 – 09 Dezembro – "Una Cueca-Cuela”.- Edson Olimpio Oliveira – Crônicas & Agudas – Jornal Opinião

 

“Una Cueca-Cuela”

 

Os amigos sabem e os opositores do capitalismo temem essa feroz e insaciável invenção gastronômica que é o “X”. Estudiosos e pesquisadores de Harvard atribuem paternidade dessa evolução aos gaúchos que criaram esse “transgênico do hambúrguer”. Histórias e estórias a parte, em outra coluna lhes contei da minha aventura enfrentando um X-filé no MEK Aurio, que existia logo ali ao lado do Gigante da Beira Rio e do Campeão de Tudo. Hoje vamos contar-lhes outra peripécia do gênero, sem número e grau vivida no Shopping America em Ciudad del Este. Essa é outra paixão desse brasileiro, comprar “unas cositas” no Paraguai. Quem resiste a uma muambinha? A esposa subia e descia os andares atopetados de quase tudo no shopping e eu e o filho Duda, já cansados das pernas de caminhar e dos braços lotados de sacolas, rumamos para o último andar. Lá estava a praça de alimentação. O Duda estava naquela fase nebulosa pré-adulto em que os apetites são vorazes e a pressa é inimiga da paciência.

 

Cr & Ag

 

Desabamos numa mesa sem sentir a dureza das cadeiras. Na mesa ao lado três jovens de faces e sotaques ianques estavam atracados em monstruosos, gigantescos “X”, respingando cathchup e mostarda para os lados em cada mordida cruel. O nosso cansaço somou-se ao pecado da gula. E da sede. O filho queria saber como se diz Coca-Cola em espanhol: – Fácil, pede “una Cueca-Cuela” que vão entender. E para completar pedimos dois “X” super-super. Um aparte! Somos de uma família de cachorreiros, essa casta de pessoal que adora cães. Estamos ali comendo com a boca toda e o filho estranhou: – Sabor meio diferente essa carne, né pai? – realmente era um sabor meio adocicado, diferente realmente dos nossos. E aí caí na asneira de relatar uma observação.

 

Cr & Ag

 

É estranho que nessa miséria toda aqui no Paraguai, Essas ruas entupidas de pedintes, mendigos, índios e “chinesada” não se viu um único guaipeca. Nenhum cachorro. E olhe que onde tem mendigo tem cachorro por perto. É o derradeiro amigo e companheiro no infortúnio da vida. E agora me caiu uma ficha. Chinês come cachorro e qualquer coisa que anda, se arrasta ou nada. Os caras aqui da praça de alimentação, os chefes são tudo “chinês”. Vai que esses caras estejam fazendo “X” com carne de cachorro. Tem uma lenda urbana que certo fast-food que usa carne de minhoca…

 

Cr & Ag

 

Falei demais e na hora errada. O Duda largou o saboroso e apetitoso sanduba na travessa e mostrou a face nauseada. Foi de bate pronto, a náusea e o “estômago embrulhado”. Estraguei o lanche dele. O meu eu comi até o fim, lambendo os dedos. Estava bom demais. Perdi o companheiro. A lancheria da Santa Casa recebeu o apelido de Morte Lenta pela comida que servia e nós (alguns, como eu) insistíamos em devorar sem saber muitas vezes o que era aquilo, como apontavam as funcionárias. A escola da vida no lombo de uma moto viajando e nos mais variados e incertos plantões lidando com todo tipo de coisas que dão náuseas a quem não é do ofício, cria uma resistência ou uma flexibilidade que melhora com uma Cueca-Cuela. Além disso, se não matar ou estropiar, engorda!

 

Cr & Ag

 

Ensina a sabedoria popular que “há que coma para viver e quem viva para comer”. O Filósofo do Apocalipse já observou que “os melhores prazeres da vida estão nos lençóis e nas toalhas e são prazeres carnais no mais amplo sentido”. Um caro amigo e cliente e cozinheiro profissional alertou-me: – Quem vive numa cozinha e pode ser dos mais finos restaurantes leva medo da comida que é feita ou como é guardada ou reposta. Bon apetit!

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