A Maravilhosa Beleza do Silêncio – Edson Olimpio Oliveira – Jornal Opinião – 27 Julho 2011

 

07 JULHO 27 – 2011 – A MARAVILHOSA BELEZA DO SILÊNCIO – EDSON OLIMPIO OLIVEIRA – CRÔNICAS & AGUDAS – JORNAL OPINIÃO

A Maravilhosa Beleza do Silêncio

Lembra-se de escutar somente a sua respiração? Ou se parar de respirar e aguçar o ouvido e… Silêncio! Absoluto silêncio. Isso talvez seja um exercício para alguns e uma impossibilidade para a maioria. Vivemos num mundo de ruídos e barulhos de toda ordem e intensidade. Talvez, com exceção dos desprovidos da audição ativa, o silêncio seja algo inusitado ou absolutamente impossível. Doutrinas ou filosofias, particularmente orientais, tentam que o iniciado exercite a absoluta abstração dos sons. E que numa escala crescente de percepção sinta os sons de seu corpo, após os que o circundam, os da natureza e da vida e assim os sons do universo.

A audição humana tende a degenerar-se nas próximas gerações pelo abuso de algo que poderia ser denominado de inferno sonoro. Quando uma pessoa sai de alguma metrópole e vai para locais mais isolados na natureza, algo que inicialmente causa estranheza é a falta ou a ausência dos sons do chamado progresso. A juventude usa e abusa de equipamentos sonoros diretamente em seus ouvidos. Em volumes crescentes e detonantes. Nas festas ou baladas diveras o som precisa estar na máxima altura para que a curtição seja plena. Corpos se torcem e retorcem ao ritmo frenético com os mais variados aditivos químicos ou suas misturas sem que a voz real das pessoas seja ouvida e assimilada. A batida instrumental ou eletrônica joga as criaturas num bailado surdo aos corações, no entanto audível aos mais primitivos impulsos do homem ou do animal que o habita. E assim como se rompem tímpanos, fraturam-se e liberam-se sentimentos contidos pelos milênios da disciplina, da religião e da vida em sociedade.

Somos seres sonoros, sendo a audição um de nossos mais poderosos e influentes aliados na vida neste planeta. Os sons nos encantam e nos atormentam. A música tem o poder de transportar-nos a um belo universo que um dia já foi vivenciado ou às fantasias de beleza plena. A mesma música libera em nosso ser os mais tristes e deprimentes sentimentos ou remete-nos para o purgatório do sofrimento experimentado ou não identificado plenamente pelo nosso raciocínio e percepção. Está música ou estes sons alimentam ou desabrocham os outros sentidos de nosso corpo e as luzes de nossa alma. Imagens, odores e uma plêiade de percepções irão percorrer-nos sendo tocados por uma melodia ou sonoridade.

Numa época remota da vida desse cronista, iluminava-me com os sons extraídos do acordeom por minha irmã Shirley. As pessoas silenciavam e suspiravam às suas melodias. Eis que assim apercebi-me, talvez pela vez primeira, como os animais sentiam-se tocados pela música. Sempre tivemos cães e gatos em nossa família. Tínhamos um cão da raça Fox – o Bric. Dependendo da melodia saída da gaita eram os seus sentimentos, que variavam da contemplação olhando-a atentamente, para a alegria em pulos e caía para o choro em lastimosos uivos. Mas ele sabia quando ela pegava a caixa do acordeom e ansiava pelo que viria a seguir. Ouvimos. Apercebemo-nos. O entendimento geralmente é tardio quando não é ausente. A audição animal supera a humana por dezenas ou centenas de vezes. Os animais cativam-se ou afastam-se das músicas ou dos barulhos. Como seres ditos civilizados somos quase obrigados a conviver com os abusos sonoros e perdemos a beleza de sentir o silêncio e o murmúrio da vida.

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