Um tempo lembrado – Panca! – Edson Olimpio Oliveira – Crônicas & Agudas – 10 Fevereiro 2015

2015 – 02 – 10 Fevereiro – Um tempo lembrado – Panca – Edson Olimpio Oliveira – Crônicas & Agudas – Jornal Opinião

 

Um tempo lembrado – Panca!

 

C

risto fez de homens das águas seus discípulos mais chegados e principais propagadores   da sua fé. Homens das águas ou homens ligados à água, ao mar. Pescadores. Pescadores de almas! O mar me induz a pensar, matutar, refletir e buscar consciências do presente e cavoucar nas areias do tempo em busca de mariscos ou das iscas que trazem recordações e novas leituras da vida e dos tempos. No alvorecer da profissão de médico ou do ainda estudante de Medicina que após tantos anos longe da terrinha retornava para beber da água do Fiúza, a barbearia do Panca era um desses locais tão singelos quanto sagrados na sua essência. Sem as frescuras pernósticas do politicamente correto, a barbearia era um local em que o ritual do corte de cabelo, da barba escanhoada à navalha congraçava pessoas de todos os naipes e sem ou louros das origens. Resumindo – um berço da democracia. E democracia participativa, onde nenhuma opinião era inútil e qualquer ensinamento, por mais humorado que fosse, trazia a luz da amizade.

 

Cr & Ag

 

Meu tio Álvaro Oliveira era um desses amigos que “batia ponto” diariamente na barbearia do Panca, aqui próxima da caixa d´água. O Panca sempre tinha uma pegadinha comigo: – O doutor sabe qual o melhor remédio para tosse? – esperava eu dizer que não, para que me ensinasse. – Óleo de rícino, doutor! – com um sorriso maroto. – O cara toma óleo de rícino e depois eu duvido ele tossir! É do Panca outro achado: – Qual a profissão que mais tem um Viamão? – esperava um tempo de suspense e aplicava: – É corretor! Olha a turma que anda aqui no centro, no Zeca, na rodoviária com uma pastinha debaixo do braço e dizendo que negocia sítio, chácara, casa, carro, mas que na verdade é um monte de vagal. Muitos casados com professoras que lhes pagam as contas no final do mês e sempre se queixam que o governo paga pouco. Esse corretores tem pro cigarro, pro cafezinho, pra cerveja e ainda correm umas chinas.

 

Cr & Ag

 

O Panca era natural de Mostardas. Na minha infância eu entendia Mostardas como um lugar naquele caminho do Marco Polo para às Índias. Longe barbaridade. Lugar onde os cavalos tirados de lá sempre pastavam com a cabeça virada para sua terra, dizia a tradição. O namoro com a Loi aconteceu na casa do meu tio Zé Uia e da tia Tereza. Zé Uia é outro barbeiro histórico e de incontáveis histórias – era o homem que tinha um “peru treinado” a dançar as músicas no picadeiro do circo. Meu tio Zé Uia transferia a barbearia para a Cidreira na temporada de verão e praia e alugava um bangalô do Hotel Atlântico anexo da estação rodoviária. Ali um grande amor nasceu e o mostardeiro tornou-se um viamonense de coração.

 

Cr & Ag

 

Viamão transferia-se para Cidreira principalmente durante o verão. Seu Cici do Jornal Correio Rural ia para Nazaré e a maioria dos viamonenses no bairro da Viola. Alguns para Pinhal como os Zavarize e a família do seu Calisto Allem. Outros para a Cerquinha, atual Magistério, como seu Hélio Cabeça, pai do ilustre Bebeto Cabeça de longa e permanente vida política nessa terra setembrina. E logo acompanhado dos Scarppetti, como do querido Deco da Farmácia. Quem não conhece seu passado, não executa corretamente seu presente e projeta mal seu futuro. Os conhecimentos farmacológicos do caro Panca salvaram vidas, como do brigadiano que até já tinha comprado corda para se enforcar, pois acometido de persistente “brochura” (disfunção erétil) tinha perdido o gosto, a esperança e a ilusão da vida. Com chás do cipó chamado Nó de Cachorro, fornecido sigilosamente pelos homens das pedreiras de Itapuã, trouxe-lhe “alegria e felicidade e sexo poderoso”, segundo contava a boca larga.

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